Aula 3 – 26/08

Reflexões sobre o ensino das Ciências Sociais

Acredito que o papel do ensino das ciências sociais passa por uma imensidão de valores, mas o principal deles é o de revelar interpretações mais embasadas cientificamente a respeito da sociedade e os seus indivíduos, peças chave no funcionamento da mesma. Lecionar ciências sociais, sob meu ponto de vista, é uma tarefa de conscientização e um exercício de cidadania para com os outros semelhantes a ti. O profissional das ciências sociais passa anos em formação e continua seus estudos mesmo ao sair da academia, como forma de obter mais conhecimento teórico científico que os demais sujeitos vivendo em sociedade, com o objetivo de disseminar este conhecimento e dar a sua contribuição acerca de problemas de âmbitos político, social, cultural, econômico e histórico que são princípios formadores do “organismo” no qual interagimos. 

       Aprendi sobre o ensino das ciências sociais no âmbito familiar. Minha mãe é socióloga formada e professora universitária. Desde a infância acompanho-a, quando da época em que realizou pós-graduação na área e recebeu o titulo de mestra, estive ao seu lado, ajudando-a na formatação da sua dissertação entre outras participações durante o processo. Diante desta proximidade, acabei afinando-me com o desejo pelo curso logo cedo. Ao sair do ensino médio tive uma rápida experiência em sala de aula e na época pesquisei sobre o ensino das ciências sociais no ensino médio foi quando tive o primeiro contato com o ensino desta disciplina neste grau de ensino que, recentemente, foi regulamentado como obrigatório no Brasil. 

    Acredito que os principais problemas do ensino das ciências sociais em qualquer grau de ensino educacional ainda estão na resistência político-cultural de se pensar sobre o ser humano e as suas relações em sociedade. Como uma disciplina das ciências humanas, as ciências sociais enfrentam problemas semelhantes aos de disciplinas como história e filosofia, uma vez que tratam de fenômenos que exigem interpretação compreensiva e muitas vezes subjetiva. As ciências humanas não são palpáveis, não resolvem fórmulas e não entregam resultados exatos. Em sociedades pautadas pelo conhecimento técnico-científico, como no Brasil, os desafios em implementar o ensino das ciências humanas desde a educação de base são enormes, apesar de, sem nem perceber, o sujeito social é agente histórico e vivencia aspectos filosóficos desde os primeiros anos de vida. 

    As conseqüências deste déficit no ensino das ciências sociais, para mim, estão diretamente ligadas à ignorância histórica, a alienação política e o encurtamento do raciocínio subjetivo amplo. Deparamos-nos com um ambiente social cada vez mais técnico e menos humano. As soluções para reverter um quadro como este, não estariam em outros âmbitos que não da reformulação educacional mediante intervenção política. Não há como alterar o rumo de uma nação sem que se reflita sobre as suas problemáticas educacionais e sem agir politicamente sobre tais. Leis como a que já vigoram no país, que tornam obrigatório o ensino das ciências sociais no ensino médio, são o inicio do processo de transformação de uma lógica vigente que nos colocou em um padrão de reprodução mecânica e deixou milhares de cidadãos brasileiros órfãos de conhecimento sócio-filosófico.